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Está perdido ? Observe o rio.

Está perdido ? Observe o rio.
Sempre me lembrarei deste dia, era uma segunda feira, quando uma amiga xamã conversou comigo.
O Nome dela era equivocado pois nele haviam colocado, aqui, a palavra Lua, mas em seu idioma, não existe lua.
Somente existe a palavra astro. Para eles, os Sioux da tribo Hunkpapa Lakota, somente há o astro que ilumina o dia e o astro que ilumina a noite. O nome dela deveria ser traduzido em português por “Pequeno Astro que Ilumina a noite”, mas todos a chamavam de Lua Pequena e a amavam porque sua chegada  era sempre uma alegria e a constante certeza de um aprendizado único, embalado em rimas e poesias.
Neste dia ela me disse assim:
“Quando esta perdido, quando não sabe para onde ir, só resta uma coisa a fazer:
Agachar-se no rio e observar o movimento das pedras.”
Subentendendo que, se observar atentamente a água, pode ver, por baixo dela, as pedras se mexerem e adivinhar o sentido da correnteza e, portanto, perceber de que lado o rio sobe e de que lado o rio desce.
E, entendendo que todo rio, quando desce, chega ao mar, e se se não chega ao mar, chega a um rio que vai ao mar, e que neste caminho até o mar sempre haverá algum lugar onde a água se represa, onde se aglomeram pessoas e formam uma cidade, e chegando ao mar, certamente, um porto, já não está mais perdido.
Um outro dia eu estava em casa em percebi uma coluna de formigas no meio da sala indo em direção à porta que leva até a lage.
Na hora subiu em mim um sangue Italiano que não sei de onde vinha e disse em voz alta “maledetas !!!!”, com a mão e tudo…..
O que faria com elas ?
Em vez de tomar medidas drásticas das quais com certeza me arrependeria em seguida, pois toda vida tem um propósito, fato que seria logo comprovado,  decidi poupar suas miseráveis existências e observar seu  mais que esquisito comportamento.
Segui então, atento a seus movimento, toda esta armada minúscula até meu quarto onde encontrei, escondidinhos atrás de algum móvel os destroços de uma barata morta.
Estavam elas todas, tentando carregar o monstrengo para fora de casa, carregando-o em suas costas, realizando assim seu propósito divino de heroínas faxineiras do meio ambiente.
Observando atentamente, em vezes de entregar-me a um reflexo assassino, poupei-me do cheiro forte do aerossol, e mudei meu entendimento de uma situação que parecia negativa e aprendi ou melhor dizendo, me convenci de que realmente, como  Shakyamuni Buda ensinou, entre outras lições,no sutra da Tigresa,  não existe hierarquia das formas de vida e que nenhuma vale mais que outra.
Nunca mais tive intenção de matar uma formiga e fico bravo quando alguém o faz.
A observação leva ao aprendizado.
É um dos princípios da epistemologia: Não pode haver Ciência sem observação e quase sempre de fatos corriqueiros.
Foi observando objetos flutuando em banheiras e frutas caindo de árvores que Arquimedes e Newton formalizaram princípios de física revolucionários em suas épocas e usados na prática até hoje.
Mas se a observação é lei na filosofia da Ciência, com é na Ciência da vida ?
Existe, na psicologia analítica, um conceito que Jung chamou de sincronicidade e que descreve o fato de que certos eventos que ocorrem de forma aparentemente aleatória são conectados, não por causalidade ou seja por relação de causa e efeito, mas por um sentido comum.
É por exemplo algo como quem está fazendo um mochilão pela Europa está se sentindo desconfortável em sua atual parada, escuta sem querer a conversa de duas pessoas a respeito de como a Espanha perdeu da Itália em determinado campeonato de futebol, liga a televisão e passa um documentário sobre a escola Fiorentina de pintura e a noite acha um cardápio de Delivery que  havia esquecido no bolso da sua calça escrito : “Pizzaria di Napoli, seu próximo Jantar”.

Este certamente poderia começar a questionar se essa inquietação não era simplesmente um aviso de que o tempo havia chegado de fazer as malas e prosseguir até um próximo destino e afinal de contas, se todos os caminhos levam a Roma, Napoli poderia ser uma escala.

Perceber o sentido que liga esses tipos de eventos pode ajudar aquele que está um busca de autoconhecimento a questionar suas certezas, ver padrões eventualmente tóxicos, abrir janelas sobre novas paisagens, ou enxergar onde ficam as fechaduras de portas há tempo demais trancadas.
Não pode haver entendimento sem ao menos ter percepção do acontecimento. Mas até que ponto vemos e enxergamos as coisas ?
Conseguimos enxergar suas essências e perceber o sentido dos fenômenos à nossa volta ?
A resposta, para a grande maioria de nos, infelizmente, certamente é não.
Mas porque ?
Talvez venha novamente o ensinamento da doutrina Budista.
Mudamos a atitude de ver para a habilidade de observar quando trazemos atenção e consciência ao fato de olhar, quando olhamos com atenção plena, ou seja quando praticamos ou que eu chamaria de “mindful watching”.
Roshi Philip Kaplau, certamente um dos mestres ocidentais mais renomados do Budismo Soto ZEN explica no seu livro “os três pilares do ZEN” que o primeiro principio da meditação sentada, o zazen como a chamam, não é silenciar a mente como muitos o pensam, mas observar os pensamentos para ver, de onde vêm e para onde vão, sem jamais julgá-los, nem tentar controlá-los.
Fato hoje comprovado pela ciência, não tem como controlar o surgimento dos pensamentos, nem esvaziar a mente.
Assim, observando-os, percebe-se que alguns são importantes e outros não, e que muitos, com tempo, diante da sua irrelevância simplesmente somem e que pode passar a experienciar a vida na sua forma mais simples, orgânica e verdadeira, sentado e respirando.
É, quando deixamos de lado a obsessão pelo raciocínio, pela necessidade de refletir, que a vida revela a sua essência, e, se estivermos nesse momento observando seus sinais com atenção plena, poderemos entender seus mais íntimos segredos.
Portanto quando da próxima vez, estiver em dúvida, pergunte ao universo o que quer saber, mas não procure entender, observe a pergunta viajar e entregue-se candidamente, sem julgamento à resposta que chegar, quem sabe ela te leve a dar o próximo passo em sua vida.
Quem sabe te leve a ser feliz…

2 thoughts on “Está perdido ? Observe o rio.

  1. Reply
    Daniela
    25/06/2020 at 00:14

    Parabéns Saudade da Xamã que tanto ensinou…

    1. Reply
      Sebastian B.
      21/07/2020 at 15:18

      Fiquei feliz de ver que leu…..
      Saudade dela e de você.

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